sexta-feira, 16 de julho de 2010

À caça de (bons) gestores

Estudo da consultoria global DBM, especializada em gestão do capital humano, revelou que 2009 foi um ano de alta demanda por executivos e que 2010 tende a seguir o mesmo caminho. O crescimento pela busca de profissionais em posições como a de gerentes, diretores, presidentes e chefes intermediários no ano passado foi de 57% em relação a 2008. A grande novidade é o aparecimento, pela primeira vez, dos segmentos de educação e meio ambiente entre aqueles que mais buscaram no mercado profissionais e gestores para seus quadros.
"Na área da educação, o resultado é sem dúvida efeito direto da profissionalização do setor", explica Alexandre Nabil, consultor da DBM. "Com a entrada de grupos estrangeiros como a Laureate, o Capital Group e o Cartesian Group, ou de fundos de investimentos como o GP e o UBC Pactual no ensino superior privado brasileiro, criou-se uma cultura mais agressiva em termos de gestão nas instituições, e a partir daí, a necessidade de se buscar executivos de fora do mundo acadêmico, preferencialmente aqueles que já gerenciaram projetos de grande envergadura na iniciativa privada", enfatiza Nabil.
A adoção dos princípios da governança corporativa, essenciais para a perpetua­ção do negócio, para melhorar a imagem institucional e garantir uma performance acima da média garantindo a entrada de investimentos internos e externos foi fundamental para que o setor se profissionalizasse e passasse a buscar os seus gestores entre os melhores profissionais do mercado, como fazem diversos outros segmentos da economia que vivem em constante competitividade.
Para Carlos Monteiro, diretor-presidente da CM Consultoria de Administração e Marketing, empresa especializada em consultoria educacional, a tendência hoje é optar por uma gestão integrada, em que o gestor acadêmico consiga pensar também na gestão financeira, ao mesmo tempo em que o gestor financeiro se volte também para a qualidade acadêmica. "As instituições de ensino superior buscam na profissionalização da sua administração estratégias para manter a competitividade. Elas precisam cada vez mais criar mecanismos que lhes permitam investir sem medo em ciclos de expansão, atraindo recursos externos que lhes garantam um bom caixa, criando a capacidade de atrair e reter talentos gerenciais. Hoje, a receita certa é um pacto de gestão com foco em resultados", explica.
Mas buscar a profissionalização não é assim tão fácil. Um dos principais obstáculos é a falta de profissionais capacitados. Outra pesquisa, realizada mundialmente pela Manpower INC no final de 2009, apontou que a escassez de talentos foi uma das grandes preocupações dos dirigentes de grandes empresas. Segundo o estudo, 30% dos empregadores em todo o mundo encontraram dificuldades para contratar candidatos qualificados para as suas vagas. Representantes de vendas, técnicos, engenheiros e executivos de gestão foram os cargos mais difíceis de preencher.
Para o professor Francisco Borges, diretor acadêmico da Veris Educacional, esse problema também é enfrentado pelo mundo acadêmico. Algumas instituições, inclusive, buscam os melhores executivos de outros segmentos (veja box). "O que as instituições de ensino superior procuram no mercado com uma frequência cada vez maior são gestores que saibam gerenciar bem o negócio educação e que entendam que o melhor marketing de uma escola é o marketing de relacionamento. É claro que não basta ter boas noções e experiência em finanças, marketing ou vendas, também é preciso ter bom trânsito na área acadêmica, entender como é compor um bom regimento escolar, criar um calendário e uma grade adequados. Neste novo modelo de administração, a gestão de todo o processo é o mais importante", diz.
Borges também atribui essa tendência à profissionalização do setor. "As instituições de ensino superior perceberam que precisavam quebrar paradigmas e dogmas até então imutáveis para continuar sobrevivendo no mundo dos dias de hoje. Elas têm de estar bem estruturadas para entregar resultados, assim com qualquer empresa de outro segmento da iniciativa privada, porque a sustentabilidade delas só é conseguida com bons resultados", explica.
Na gestão de pessoas da área educacional, os profissionais que mais interessam às instituições de ensino hoje são aqueles que, normalmente formados em administração, economia e finanças, tecnologia da informação ou marketing, investem também em cursos específicos de gestão e em MBAs. Muitas vezes eles fazem parte das Gerações Y ou X, que embora apresentem algumas características diferentes, têm foco em não temer o estranho, as novidades e os desafios que o mercado apresenta.
Francisco Borges dá a dica para quem quer aproveitar o momento de demanda e se qualificar. "Os profissionais de mercado que possuem e desenvolvem na sua carreira características como liderança, comprometimento, perfil inovador e empreendedor e ética são aqueles que mais interessam para qualquer empresa e principalmente numa instituição para ocupar cargos gerenciais, porque possuem a capacidade de ter uma visão geral e ampla do mercado em que se inseriram."
Já é possível desenvolver essas habilidades nos bancos escolares. O Ibmec criou a pós-graduação em gestão estratégica da educação, cujo público-alvo são diretores, coordenadores e chefes ou responsáveis por unidades das Fatecs e Etecs, enquanto a Abrafi, em parceria com a Faculdade Maurício de Nassau, lançou o curso de Formação de Executivos em Educação Superior.
Mas também é possível encontrar apoio dentro da própria instituição de ensino para a qual se trabalha. Para conquistar os resultados esperados pelos novos acionistas e investidores, algumas instituições e escolas de negócios também estão se voltando para o treinamento e preparação interna dos colaboradores.
Marisabel Ribeiro, diretora de talent da Right Management e professora da ESPM e da FGV, relata que começa um processo de treinamento interno de alguns colaboradores até então essencialmente acadêmicos, para que eles possam adquirir essas novas competências. "É preciso que esse novo gestor das instituições de ensino superior privadas e também das universidades públicas tenha uma formação mais holística. Não basta saber analisar os números, é preciso entender como trabalhar com todo o entorno de uma gestão acadêmica."
Esse movimento, porém, ainda é lento entre as instituições públicas. "Elas engatinham nessa questão porque ainda vivem um outro tempo, mas também já começam a se voltar para essa visão de que é necessário ter em seus quadros profissionais que sejam mais facilmente adaptáveis às  orientações e aos caminhos que o mercado segue e que consigam trabalhar melhor com diversos tipos de ambientes".
Marisabel cita como exemplo o atual processo de escolha dos reitores em algumas instituições públicas e particulares. "Não é mais o melhor currículo que chama a atenção, mas sim a melhor proposta de gestão, o melhor plano de trabalho que esse acadêmico e postulante ao cargo apresente. Essa proposta precisa contemplar não só o presente ou um futuro a curto prazo, mas tem de ter flexibilidade e ética o suficiente para garantir o médio e o longo prazo da vida dessa universidade."
Alexandre Nabil, da DBM, lembra que a pesquisa da sua empresa mostra sinais claros de que a opção pela profissionalização não é mais uma tendência, mas uma saída. "Tanto que as instituições já oferecem remuneração variável e um pacote de remuneração atrativo para conquistar os novos gestores, da mesma forma como outros segmentos do mercado atuam há vários anos", compara.

O perfil do administrador atual
- Procura deliberadamente aprender, principalmente face ao novo desafio e mercado em que se inseriu;
- Reconhece o poder do aprendizado decorrente da experiência de trabalho;
- Sente-se responsável pela sua própria carreira e investe nela;
- Assume a responsabilidade pelo seu próprio desenvolvimento;
- Encara a educação como uma atividade permanente, para a vida toda;
- Percebe como o seu aprendizado afeta os negócios que dirige;
- Decide intencionalmente o que aprender.

Áreas de maior busca
1. Serviços
2. Indústria
3. Instituições financeiras / Bancos
4. Serviços de informática
5. Petroquímica / Química
6. Varejo / Atacado
7. Engenharia / Construção
8. Alimentação e bebidas
9. Automotivas e autopeças
10. Produtos de consumo
11. Farmacêutica
12. Transportes
13. Agrícola

Fisgado pela educação
Aos 47 anos e formado em engenharia eletrônica pela Escola Politécnica da USP, Luciano Possani exerce há dois anos o cargo de diretor de TI do Grupo Anhanguera Educacional. Ele nem pensava em entrar na área, mas foi atraído pela oportunidade. "Educação não estava no universo de possibilidades que eu procurava no mercado depois de trabalhar alguns anos em uma empresa de TV por assinatura. Mas por meio de um processo coordenado por um headhunter fui indicado para o cargo e fiquei surpreso com a empresa e com todas as possibilidades que o mercado educacional oferece hoje para um executivo", descreve.
Luciano destaca que o segmento tem desafios muito interessantes e que os grupos consolidados se tornaram atraentes para qualquer executivo. "Embora a área educacional tenha um marco regulatório forte, esse mercado cresceu muito e se sofisticou nos últimos anos. No meu segmento, por exemplo, o nosso desafio é como levar a educação por meio da tecnologia, como interpretar a educação como um processo de captação e retenção de alunos e como isso pode fazer a diferença no mercado."
Para o diretor de TI, os profissionais com uma carreira de sucesso em segmentos como cartões de crédito e telecomunicações e ligados a marketing ou comercial são os mais procurados pelas instituições porque trazem para a educação uma experiência na implantação de processos vitoriosos em empresas maduras no desenvolvimento das melhores práticas do mercado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário