quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Entre dois Saberes

Experiência profissional aliada a uma boa didática e conhecimento sobre novas tecnologias podem superar a titulação acadêmica, até então imbatível, na definição de contratação das instituições de ensino superior. Nesse novo cenário, professores cada vez mais jovens ocupam o centro das salas de aula e geram um novo fenômeno na educação. Docentes com menos experiência, mas familiaridade com relação ao mercado de trabalho e às novidades tecnológicas, dividem espaço com profissionais que acumulam anos de docência, mas, naturalmente, têm maior resistência a mudanças e menos intimidade com recursos tecnológicos e o mercado de trabalho. Portanto, a questão que se coloca para as áreas de gestão de recursos humanos das instituições de ensino é: como agregar, valorizar e aproveitar as melhores características desses dois perfis de docentes que dividem a atenção dos alunos?

"As instituições procuram cada vez mais profissionais que sejam capazes de auxiliar na produção da aprendizagem, que sejam verdadeiros facilitadores e tragam consigo uma boa experiência de mercado, já que as disciplinas também estão mais voltadas para atender às exigências atuais do próprio mercado", afirma Carlos Afonso Gonçalves da Silva, diretor de operações acadêmicas da Anhanguera Educacional. "O diletantismo do passado cedeu espaço para uma carreira bem estruturada que chama a atenção do mercado e que transformou a atividade de professor universitário em uma opção economicamente interessante", completa Carlos Afonso, o que explicaria por que cada vez mais jovens e profissionais liberais estão sendo atraídos para o magistério de nível superior.
Justamente pela valorização das instituições de ensino a esse novo perfil de "profissional-docente", um certo mal-estar pode acometer os corredores das universidades, pelo sentimento de desvalorização entre os "docentes-profissionais". Lucia Helena da Silva, diretora administrativa da Etep Faculdades, acostumada a implantar planos de recursos humanos, admite a dificuldade de colocar novas ideias em prática, mas aponta alguns caminhos possíveis para driblar resistências. "Em qualquer instituição de ensino existem estágios diferenciados de públicos, inclusive no quesito idade e experiência profissional. É preciso ajustarmos sempre o nosso discurso a cada um desses públicos, ou nunca vamos conseguir quebrar os paradigmas existentes. A resistência natural às inovações e mudanças, principalmente da parte dos mais velhos, será cada vez maior", diz.
Marcos Formiga, professor do curso de engenharia da Universidade de Brasília (UnB) e estudioso do uso de tecnologias educacionais, diz que o que retarda a evolução do ensino superior é o perfil do professor. "A maioria não gosta de mudança e se acomoda naquele espaço de manobra. Quando elas vêm, não reage e é vencido com o tempo."
Para ele, muitos ainda se esforçam para serem tradicionais, têm aversão à tecnologia e impõem aulas muito teóricas. "Esse método não funciona mais. Acredito que daqui para a frente será fundamental mudar a atitude dentro da sala de aula. Aprendo diariamente com os alunos, é uma simbiose coletiva", sugere.


Renato Casagrande, pró-reitor de graduação, planejamento e avaliação da Universidade Positivo, afirma ser difícil identificar se essa resistência é aversão ou medo. Na opinião dele, a resposta pode estar no fato de a maioria dos professores universitários não ter sido formada para a docência. "Já que aprenderam na prática, muitos docentes tiveram como modelo os próprios professores." Daí a necessidade de investir em formação específica para o ensino superior. "É fundamental para haver evolução no processo de aprendizagem", ressalta.
No entanto, há quem discorde dessa disputa. Josiane Tonelotto, pró-reitora acadêmica da Universidade Anhembi Morumbi, defende que a concorrência entre os dois perfis profissionais está no imaginário das pessoas. "O que acontece no dia a dia é mais uma aliança entre os dois níveis de professores, já que os mais novos buscam a sabedoria dos mais velhos, enquanto os mais velhos procuram ter um pouco da energia dos mais jovens."
Alguns docentes com décadas de experiência, inclusive, veem como positiva a disputa entre os professores mais jovens e aqueles com muitos anos de carreira.
"O segredo para a minha energia, apesar dos meus 70 anos, é a minha paixão por absorver conhecimento e por tentar entender as inquietações e os questionamentos cada vez maiores dos mais jovens, sejam eles alunos ou meus pares.
Eles são mais instigadores e aí se estabelece uma troca maior entre as nossas gerações", diz um professor da Universidade de São Paulo, que prefere não ser identificado.
Josiane admite, no entanto, que mudanças estão ocorrendo, principalmente no perfil do que se espera desses professores.
"A mudança foi muito mais de postura. O novo perfil dos nossos professores exige que eles tenham uma habilidade a mais, agreguem uma constante atualização tecnológica e consigam conferir autonomia ao aluno, permitindo que ele seja o dono do processo de aprendizagem. E nesse processo, os professores mais experientes levam vantagem sobre os recém-formados.
O mesmo acontece naquelas disciplinas mais densas como metodologia, matemática ou da área de medicina, que são cheias de regras ou mais quadradas nos seus formatos".
Portanto, uma questão que se torna fundamental é: o que as instituições esperam de seus professores para agora e para o futuro? O modelo ideal de professor de uma instituição é definido pela analista de Recursos Humanos do Grupo Kroton, Cristiana Martins Lopes Castro, como nem muito rigoroso, nem liberal demais.
"O ideal é aquele com bom perfil orientador e capacidade de compartilhar conhecimento, ou seja, o que deixa o aluno caminhar sozinho." Para Cristiana Castro, é esse perfil comportamental o que pesa mais hoje na seleção de um novo professor. (Colaborou Juliana Duarte)





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