quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Pesquisas mostram que o diretor é peça-chave para uma boa escola

Formação de gestores, capacidade do diretor de integrar as áreas de atuação no dia a dia, atenção dedicada às metas de aprendizagem e habilidade para criar um clima escolar favorável. São esses os quatro segredos de uma escola bem sucedida, de acordo com a pesquisa Práticas comuns à gestão escolar eficaz, realizada pela Fundação Getulio Vargas em parceria com a Fundação Victor Civita. O estudo comparou 10 escolas de quatro municípios de São Paulo, entre abril e setembro deste ano, e revelou que as escolas que apresentam uma gestão eficaz atingem melhores resultados na aprendizagem de seus alunos. Para os pesquisadores, as características dessas escolas podem ser adotadas por outras e pensadas como políticas públicas para a educação brasileira.De acordo com o estudo, as escolas com melhores resultados apresentam corpo de gestores mais qualificado, com curso de especialização em gestão e administração escolar e pedagógica. Quanto maior o nível de especialização dos diretores, melhores os resultados da escola. Os dirigentes eficazes também conseguem exercer uma liderança que integra as oito áreas da escola: as gestões pedagógica, administrativa, financeira, de infraestrutura, da comunidade, das relações pessoais, dos resultados escolares e do relacionamento com a rede de ensino do município ou estado. Além disso, eles valorizam as avaliações externas como ferramentas importantes para definir metas.
Ao analisar a pesquisa, o diretor do Centro de Ensino Médio de Taguatinga Norte, Wilson de Sousa Filho, destaca dois pontos como fundamentais para obter bons resultados: os exames externo e o clima na escola. “Os indicadores são muito importantes porque provam se o que estamos fazendo está certo ou errado. E se estiver errado temos de buscar consertar aqui dentro”, analisa. A escola teve 29 alunos aprovados no último PAS, o programa de seleção da Universidade de Brasília (UnB), e ficou entre as quatro melhores da rede pública do DF no Enem, o exame do Ministério da Educação, e no Siade, a avaliação feita pelo GDF. Entre as características que contribuem para o sucesso da escola está o comprometimento dos alunos com o estudo. “Aqui a gente não tem muito problema com indisciplina. Eu sou um paizão, mas também expulso aluno se for preciso”, garante Sousa. “Eles têm o manual do aluno e sabem quais são as normas. Nosso diálogo é muito bom.”
Segundo a pesquisa da FGV, para atingir um clima agradável na escola, os diretores precisam ser organizados, comprometer a comunidade escolar com a aprendizagem dos alunos e estabelecer regras claras.
A questão do ambiente escolar também ficou clara na pesquisa Melhores práticas em escolas e redes de ensino médio em quatro estados brasileiros, realizada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em parceria com o Ministério da Educação. O estudo, que ainda está em andamento, avalia 35 escolas do Ceará, Acre, São Paulo e Paraná com resultados acima da média do estado. E já apontou algumas características comuns às instituições, como normas de convivência claras, aceitas e incorporadas à dinâmica da escola.
Além disso, o estudo destaca a importância da expectativa positiva em relação ao desempenho dos estudantes. Nas escolas pesquisadas, 85% dos gestores afirmaram que a maior parte dos alunos iria ser aprovada no vestibular.
Para o economista sênior de educação do BID, Carlos Alberto Herrán, as pesquisas devem contribuir para formular políticas públicas que valorizem a gestão escolar como instrumento para melhorar a qualidade do ensino no país. “Antes de estabelecer políticas públicas, é preciso aceitar que o resultado depende do que acontece dentro da escola. As políticas devem fazer efeito na gestão e na sala de aula”, ressalta."
Os indicadores são muito importantes porque provam se o que estamos fazendo está certo ou errado. E se estiver errado, temos de buscar consertar aqui dentro"Wilson de Sousa Filho, diretor de escola
Como obter bons resultados
Três pesquisas recentes mostram como funcionam escolas com boa avaliação e alunos bem sucedidos.
Pesquisa: Práticas comuns à gestão escolar eficaz (FGV)
Os quatro segredos das escolas eficazes:
Formação dos gestores
Capacidade de integração das áreas de atuação no dia a diaAtenção dedicada às metas de aprendizagem
Clima escolar positivo
Pesquisa: Melhores práticas em escolas e redes de ensino médio em quatro estados brasileiros (BID e MEC)
Aprendizagem como foco central da escola
Expectativas positivas de desempenho dos alunos
Elevado senso de responsabilidade profissional dos docentes com o sucesso de seus alunos
Trabalho em equipe e liderança reconhecidos
Preservação e otimização do tempo escolar
Normas de convivência clara, aceitas e incorporadas à dinâmica da escola
Clima harmonioso: a escola como um lugar agradável para ensinar e aprender
Pesquisa: Quem é e o que pensa o gestor escolar (Ibope)
80% estudaram em escola pública no ensino fundamental
73% fizeram o ensino médio em escola pública
53% concluíram o curso de graduação em instituição particular
93% avaliam como boa ou excelente a formação inicial
28% avaliam que a formação não os preparou para a gestão da escola
Desconhecimento sobre avaliações
Embora o estudo realizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) ressalte a importância das avaliações externas para a gestão eficaz, uma boa parte dos diretores brasileiros desconhece os resultados da própria escola.
A pesquisa Quem é e o que pensa o gestor escolar, realizada pelo Ibope a pedido da Fundação Victor Civita, entrevistou 400 gestores e revelou que 36% deles não sabem a nota recebida por sua instituição no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), o indicador da qualidade do ensino fundamental traçado pelo MEC.
Para Mauro Morellato, gerente de projetos da Fundação Victor Civita, o desconhecimento do Ideb pode resultar em prejuízos para o gestor. “Isso revela que essa parte da amostra pesquisada não vai conseguir traçar nenhum plano de ação e nem avaliar o trabalho que está fazendo”, explica.
Quanto à formação desses profissionais, a pesquisa revelou que a maioria fez ensino fundamental (80%) e médio (73%) em escola pública, mas a graduação em instituição particular (53%). E ainda que, embora a maioria dos entrevistados (93%) avalie sua formação inicial como boa ou excelente, uma parte deles (28%) acha que essa formação não o preparou para atuar como gestor da escola.
Os diretores acreditam que a eleição direta é a melhor forma para chegar ao cargo. Isso porque, segundo os entrevistados que forneceram essa resposta (49%), a eleição aumenta o respeito que a comunidade tem em relação aos gestores. Os concursos aparecem em segundo lugar, escolhidos por 35% dos entrevistados, que alegaram ser essa a melhor forma de avaliar o conhecimento técnico do profissional.No dia a dia do trabalho, a maioria dos gestores acha que gasta muito tempo com questões burocráticas, podendo se dedicar pouco a atividades como planejamento, reuniões, relatórios, acompanhamento mais próximo de alunos e atividade de apoio à aprendizagem. Mas quando questionados sobre as características necessárias para um bom gestor, quase não foram citadas as opções que poderiam liberá-los das atividades burocráticas, como saber delegar, incentivar o trabalho em equipe e compartilhar a administração.Para Mauro Morelato, o Brasil não está muito longe de conseguir ampliar as práticas eficazes de gestão para mais escolas. “A gente está no caminho. À medida que conseguimos traçar esse perfil e identificar os pontos a serem melhorados, podemos estimular uma gestão profissionalizada”.

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